março 06, 2014

Lá... pis.

Os dedos formigam diante da folha branca. Que cor começar primeiro? Não sei, acho melhor eu ir ali comer alguma coi... não. Pego novamente o lápis, meio que sem escolher a cor. O coração palpita, o suor das mãos parece sujar o papel em branco.

Começa com um rabisco. Uma linha, uma curva, um erro do lápis. Às vezes é um tropeço do dedo, uma formiga ali do lado xeretando nas minhas bolachas, uma coçeira nos olhos que me lembra que faz tempo que não desenho nada digno de ser visto. Mas então começa. Rabisco. Como que num sonho onde você só consegue olhar pra certas partes, assim vai se fazendo o desenho. Um pouco de cor ali, esfumaça aqui, d'outro lado pintei demais... Mas tudo bem, é só pintar demais tudo ao redor que dá certo. Rabisco. A ansiedade de começar dá lugar à dança dos dedos. Rabisco. Sem perceber, prendo a respiração, que é pra ter certeza que o risco não vai entortar. Mas entorta. Mas o risco continua mesmo assim, mesmo sem saber muito bem pra onde vou - digo, pra onde vai. Rabisco. Por essas horas os calos já começam a doer e o álbum já repetiu duas vezes. Mas nem percebo. Estou lá com Dali, Picasso, Kat Von D, todos me lembrando o quanto desenhar é mais processo do que resultado. Desenhar-me, desdenhar-me, desenhe dar-me... Rabisco.

Será que está terminado? Não sei. Rabisco.