agosto 21, 2013

Introfone


Tenho uma chave, mas não sei que porta abre. Pode ser a chave de um fusca, de uma casa ou do teu diário íntimo. Pode ser a chave da porta de entrada do prédio, ou a chave que fecha os fundos do bar. Não sei que porta abre, mas cabe dizer que é uma chave que não tem entrave: uma vez aberta, a porta não se fecha mais. Abre-se na chave que abre o carro, o peito, as pernas e que abre o show da noite. A chave escancara e, de cara, me deixa com a cara no chão. Portas grandes e portas pequenas, dessas de madeira ou de alvenaria, não sei se abre choro de tristeza ou de alegria. 
A chave que abre todas as portas só funciona de dia. Será que à noite todas as portas estão destrancadas? Fechadura é só fachada, a verdadeira abertura não pode ter porta nem portão; a chave que abre a casa - minha e sua - não tem sistema de alarme nem botão. Não há interfone pra te informar que vou entrar na sua vida e na sua casa, o síndico da tua alma foi viajar. Mas será que você está aí? Não sei. Do lado de fora do seu apartamentalma, minha chave não funciona. 

Porque tem chave que só funciona do lado de dentro.

Historialma

Trago na mochila saudades de flores que já morreram, de um pôr-do-sol que já se pôs e de um livro que já li faz tempo. Trago comigo cicatriz de machucado que já sarou, de lágrima que já secou, de tempo que já se foi. Comigo trago junto gente que não vejo mais, comidas que não como mais e jeitos de ver o mundo que um dia já me serviram, mas que hoje não têm espaço na gaveta. Mas tudo é bom.

agosto 16, 2013

Bloodbath

“It’s a trap”  she said
As she slowly drank her wine 
She left me by the bed
With shivers down my spine.

“Perhaps you’d like another dose of blood
From my blue veins and soft skin
Should I pour it down on a glass for you,
Or would you rather just bite it in?”

Of women of blood as red as yours
Countless tales I have known
They end all in the same way:
A dying king with a dying crown.

So I won’t drink from your advice
Devilish woman of red
Pour me nothing but your fearful tears,
As you walk away to thread your thread.

agosto 15, 2013

Trapa

Cuidado, é uma trapa. Uma armadilha que lhe coloquei aos pés, que é só pra você se esquivar e, assim, manter-se alerta como gato saltando de pára-quedas. Atrapalho-me na armadilha, armadilho-me. A trapaça que me faço é fazer-me em trapos só pra você me costurar de novo e de novo e de novo em tecido remendado feito dos teus cobertores e cabelos. Atravesso o quarto cheio de ratoeiras, mas no lugar do queijo está o seu sexo, seu amor e seu beijo. Apanho-me na minha própria trapa e trapaceio, sem perceber que já hei de ter implantado outra armadilha qualquer ao meu redor. Meu coração é canivete suíço, e a armadilha de urso que te coloquei só serviu pra deixar-me preso na floresta, esperando para te dar o bote. O problema é que o bote salva-vidas já zarpou, e tive que me contentar em espalhar o que sobrou das minhas trapas, trapos e trapaças pra você cair, mesmo sabendo que, ao invés de queijo, na minha ratoeira-coração só tenho teu sexo, amor e beijo. Atrapalho-me.

agosto 01, 2013

Bule d'alma




Bule D'alma

Amor, café e açúcar
De manso, de leve e de dor
Cafeína, desalento e loucura
Serve-me um café, por favor.

Você é cafeína,
E eu não sou ninguém
Tu és minha cafetina,
Tarô, vodoo e chassina: amém.

De repente e com amor
Tu me mistura no pó do café,
Me sirvo na mesa sem pudor
Que é pr'eu não perder a fé.

Você sabe né,
Café, cafetina e até
Tu és vertigem proibida,
Como entrar no mar em noite de maré.

Queres no copo ou no corpo,
A bebida que tu me deste?
Coloca o café na mesa,
Me beija, me bebe e - só então - te veste.