setembro 29, 2013

Corre que vai chover.

- Vai ficar aqui até que horas?
- Não sei. Não tenho aula hoje a tarde.
- Vadio!
- ...
Vamo ali fumar comigo.
Te acompanho na presença. Pode?
Não sei. Depende.
...
Acha que chove hoje?
Não sei. Depende. (risos)
Tudo depende?
Tudo depende.
...
Tu tá diferente.
Se pá.
Tá faltando uma cerveja aqui pra gente.
Sempre tá.
É bom pra escrever. Tem texto que diz exatamente aquilo que a gente queria.
É!! Mas tem uns que são mais ou menos.
É...
...
Se eu parar de escrever eu morro.
Então escreve, pelo amor.
Tem que amar...
... e só.
- Porra, dá pra escrever alguma coisa junto.
...
...
Porra, dá mesmo caralho!!
Como ninguém pensou nisso antes!?
Aceita o convite??
Aceito.
O que temos que fazer então?
Tem que amar.
...

E só.

É coisa curiosa o convite. Con-vite. Con-vitae. Com vida. Convidar é fazer viver junto, duplicar a vida, o amor, a cerveja, o pão, os olhares e as amizades. Conviver é a arte de fazer poesia a dois pra então poder espalhar pra todo mundo.
Bora? 
Na calçada, os dois homens conversam sobrem possibilidades poéticas e parcerias em prosa. Coloca-os em um canto, dá-lhes uma mesa e uma cerveja e pronto, está feito o convite pra prosear. Como velhas senhoras papeando sobre o universo, os dois procuram distraidamente alguma coisa em seus bolsos de gato Félix. Tiram, em meio à prosa, os novelos de lã. Devido à embriaguês, demoram a achar a ponta do fio. Esticam os braços e lançam os seus fios por cima da mesa, misturando as duas pontas em uma colcha mais ou menos retalhada. Confiar: com-fio. Dar seu fio para o outro tecer junto a malha de sua alma. E, nessa de vestir-se com o retalho d'outro, os dois vão se fazendo poetas. Misturam-se os tecidos e as almas, e, sem que percebam, os dois amigos convidam o bar inteiro a prosear. Proseiam, poetizam, bebem e tecem rimas sem nexo. Falam das meretrizes, das putas, do futuro da nação e da embriaguês que os acomete. E, nas entrelinhas dos discursos, vão se perdendo entre as linhas do tecido, que, a essas horas, já forrava a mesa do bar. Perdem-se na conversa que é pra ver se encontram a poesia que, não dita, fica presa nas gargantas geladas de cerveja.

Aceita o convite?

Se sim, afine seu violão e traga a bebida antes que o supermercado feche. Corre, porque dizem que vai chover hoje. Será que chove hoje? Não sei. Depende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário