setembro 23, 2013

Avesso

Meu guarda-chuva me guarda de tudo. Me guarda de tudo e de todos, meu guarda-chuva. É mais um guarda-costas, na verdade. Protege-me de meus medos, meus sonhos e pesadelos. Meu guarda-chuva guarda minha chuva só pra mim, que é pra desaguar só quando eu menos espero. Pega gota por gota, vento por vento, amor por amor. E nessa de me guardar da chuva acaba que ele me guarda de mim mesmo também. A chuva chove de baixo pra cima, molhando meus pés na poça da esquina. Me proteje da chuva, esse meu guarda-chuva. Mas meu guarda-chuva virou, avessou, quebrou. Ficou com as perninhas de metal todas espatilhadas, cada uma prum lado, feito tentáculo de polvo dormindo em dia de chuva. O tecido que antes me guardava da minha chuva agora se arrebentou por inteiro. Tento remendar meu guarda chuva. Mas estou molhado. Tento, então, remendar a chuva. Mas ela não pára. Meu guarda-chuva desgovernado faz chover em tudo que é lado, poça, rua, avenida e estrada. Eis que olho pra cima. A chuva me cega os olhos, e só então pude te ver.

É você quem faz chover a chuva. 
Beijo na chuva é bom, principalmente sem guarda-chuva.

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